Para alguem como nos, que se desloca a paises muito diferentes do nosso de forma independente (em termos organizativos), esta questao e fundamental. Para se poder obter resposta a esta questao, nao se pode querer ver tudo do comforto do segundo andar climatizado de um autocarro, nem saltar entre atraccoes turisticas do pais fazendo voos internos; e necessario percorrer as ruas, apanhar taxis, autocarros e comboios, estabelecendo um contacto mais proximo com a populacao. Claro que nao e facil, mas ganha-se muito em conhecimento. Mas esta parte pratica nao e tudo.
Se se pretende conhecer a identidade de uma cidade ou pais, e imprescendivel conhecer a sua historia. E o que se pode aprender, aplicando a pratica e teoria? Aquilo que um egipcio nos disse, ao meter conversa connosco na confusao das ruas e movimento de pessoas: "Se nao vierem ao bairro islamico, nunca conhecerao o Cairo". De facto, nao ha melhor forma de observar o ritmo diario do comercio e populacao desta cidade do que neste bairro, de preferencia sentados numa esplanada de um cafe em Khan al-Khalili, um dos maiores bazares do Medio Oriente, por baixo de uma ventoinha e bebendo um sumo natural e fumando sheesha.
Sente-se assim o pulsar da cidade, os habitos dos seus habitantes. Mas tambem convem percorrer a pe as atraccoes do bairro! E todas elas tem uma historia riquissima por tras, que as fazem confundir-se com a propria historia do pais.
Sabemos que o Egipto passou a ser uma provincia do Imperio Islamico no sec. VII, governado primeiro a partir de Damasco e depois de Bagdad. Mas um governador enviado de Bagdad, Ibn Tulun, decidiu declarar a independencia do territorio e a mesquita que mandou erguer no Cairo, no sec. IX, ainda se mantem de pe (ao contrario da sua dinastia que rapidamente foi eliminada), podendo apreciar-se uma vista privilegiada da cidade a partir do topo do seu minarete em espiral. No sec.X, o Egipto foi tomado pela dinastia dos Fatimitas, proveniente da Tunisia. Estes ergueram uma nova cidade, que denominaram de Al-Qahira, "A vitoriosa", um
nome mais tarde corrompido pelos europeus para "Cairo".
As muralhas desta cidade foram expandidas no sec.XII por um general sirio, Salah ad-Din al-Ayyubi, mais conhecido por Saladino, que mandou erigir uma fortaleza que ainda hoje subsiste com o nome de Cidadela, uma das principais atraccoes turisticas para consumo interno da capital, e de onde se tem uma vista fabulosa sobre a cidade e, em particular, sobre duas imponentes mesquitas, mandadas erigir pela dinastia dos Mamelucos.
As mesquitas sao um local de oracao e estudo, mas tambem de descanso, de convivio, de abrigo.
Enquanto descansavamos do sol inclemente do meio-dia, no interior da mesquita do Sultao Hassan, ouvimos a chamada para mais um dos momentos de oracao diarios, observamos os crentes a chegar, a lavar-se, a cumprimentar-se, a prostar-se virados para Meca. Nota-se que o Islao e ainda uma religiao muito proxima do coracao e mente da populacao, ditando os seus ritmos, rituais e costumes.
E combinando assim o profano das ruas com o sagrado das mesquitas, e possivel chegar um pouco mais perto de se conhecer a essencia de um povo que, afinal, nao e assim tao diferente.