Para alguem que nunca visitou o Egipto, a sua capital estara sempre associada ao poder faraonico e as suas mais grandiosas obras arquitectonicas, as piramides de Gize. E se esse alguem decide fazer uma viagem a esta cidade, organizada por uma qualquer agencia turistica, vera as suas ideias de certa forma fortalecidas. Ficara provavelmente hospedado num hotel na longa avenida das piramides, visitara as piramides de Gize, sera conduzido pelos corredores e salas do Museu Egipcio, cheios de artefactos, estatuas, sarcofagos e mumias de um passado glorioso e, por ultimo, vera um espectaculo de som e luz, com as piramides como pano de fundo, onde se conta a historia dos faraos que mandaram erigir estas maravilhas do Mundo Antigo. Mas sera que o Cairo e so isto? Qual sera a sua verdadeira identidade?
Se se pretende conhecer a identidade de uma cidade ou pais, e imprescendivel conhecer a sua historia. E o que se pode aprender, aplicando a pratica e teoria? Aquilo que um egipcio nos disse, ao meter conversa connosco na confusao das ruas e movimento de pessoas: "Se nao vierem ao bairro islamico, nunca conhecerao o Cairo". De facto, nao ha melhor forma de observar o ritmo diario do comercio e populacao desta cidade do que neste bairro, de preferencia sentados numa esplanada de um cafe em Khan al-Khalili, um dos maiores bazares do Medio Oriente, por baixo de uma ventoinha e bebendo um sumo natural e fumando sheesha. 
Sente-se assim o pulsar da cidade, os habitos dos seus habitantes. Mas tambem convem percorrer a pe as atraccoes do bairro! E todas elas tem uma historia riquissima por tras, que as fazem confundir-se com a propria historia do pais.
Sabemos que o Egipto passou a ser uma provincia do Imperio Islamico no sec. VII, governado primeiro a partir de Damasco e depois de Bagdad. Mas um governador enviado de Bagdad, Ibn Tulun, decidiu declarar a independencia do territorio e a mesquita que mandou erguer no Cairo, no sec. IX, ainda se mantem de pe (ao contrario da sua dinastia que rapidamente foi eliminada), podendo apreciar-se uma vista privilegiada da cidade a partir do topo do seu minarete em espiral. No sec.X, o Egipto foi tomado pela dinastia dos Fatimitas, proveniente da Tunisia. Estes ergueram uma nova cidade, que denominaram de Al-Qahira, "A vitoriosa", um nome mais tarde corrompido pelos europeus para "Cairo".
As muralhas desta cidade foram expandidas no sec.XII por um general sirio, Salah ad-Din al-Ayyubi, mais conhecido por Saladino, que mandou erigir uma fortaleza que ainda hoje subsiste com o nome de Cidadela, uma das principais atraccoes turisticas para consumo interno da capital, e de onde se tem uma vista fabulosa sobre a cidade e, em particular, sobre duas imponentes mesquitas, mandadas erigir pela dinastia dos Mamelucos.
As mesquitas sao um local de oracao e estudo, mas tambem de descanso, de convivio, de abrigo.
Enquanto descansavamos do sol inclemente do meio-dia, no interior da mesquita do Sultao Hassan, ouvimos a chamada para mais um dos momentos de oracao diarios, observamos os crentes a chegar, a lavar-se, a cumprimentar-se, a prostar-se virados para Meca. Nota-se que o Islao e ainda uma religiao muito proxima do coracao e mente da populacao, ditando os seus ritmos, rituais e costumes. 
E combinando assim o profano das ruas com o sagrado das mesquitas, e possivel chegar um pouco mais perto de se conhecer a essencia de um povo que, afinal, nao e assim tao diferente.
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